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Aproveito e desejo um 2009 em grande para todos vós, com muitos filmes e bom cinema !
Têm criticado este filme de acção por se colar em demasia à triologia Bourne e diga-se que é uma crítica justa. Quantum of Solace não existiria com esta forma, se não fossem os filmes de Paul Greengrass, o que não deixa de sêr curioso, uma vez que as aventuras de Jason Bourne vinham beber muito aos filmes do mais famoso espião do cinema. Daniel Craig continua bem, seco, duro e com uma presença física impressionante, o seu James Bond é mais assassino e menos aquele espião de BD a que ultimamente assistiamos. Mas apesar de Craig, desta vez o filme falha no capítulo do argumento. Nem Paul Haggis conseguiu milagres, uma vez que o guião parece ter sido escrito em piloto automático, com as cenas de acção a sucederem-se umas a seguir ás outras e com pouquissimo sumo dramático entre elas (essa era uma das várias virtudes de Casino Royale ), pois o arco de vingança que supostamente é a motivação de Bond, é explorado demasiado timidamente. O que sobra é um filme de acção empolgante a espaços, com um excelente Bond, mas nas mãos de um realizador desinspirado e algo copião (até temos perseguições em telhados como em Bourne Ultimatium), que não consegue deixar nenhuma marca especial no franchising de 007. Uma nota ainda para a canção de Jack White e Alicia Keys, descaracterizada e sem alma, muito longe do rico legado musical de Bond e que se aproxima do péssimo contributo de Madonna (Die Another Day) e afasta-se do excelente Chris Cornell (You Know My Name).
Vencedor surpresa do ultimo Festival de Berlim, Tropa de Elite é mais uma prova da imensa vitalidade do cinema brasileiro actual. Controversa e polémica, esta magnífica obra foi acusada injustamente de fascista, uma vez que o retrato que faz dos BOPE (Batalhão de Operações Policiais Especiais) não os condena e observa com justeza as suas acções. A polémica foi tal, que o seu realizador, José Padilha, teve de vir a público defender-se: “Acreditar que eu apoio as práticas do BOPE por ter feito Tropa de Elite faz tanto sentido quanto acusar Francis Ford Coppola de ligações com a Máfia por ter dirigido O Padrinho.” E polémicas à parte, Tropa de Elite tem a grande virtude de recusar facilitismos ou maniqueísmos. Tanto criminosos como policias, caem numa espiral de violência sem limite e ambos os lados são condenáveis. A cena final é uma das mais brutais e nilistas do cinema dos últimos anos e nela esta a chave para a ambiguidade da “mensagem” de Padilha. Ou seja, numa guerra não se fazem prisioneiros, e é de uma guerra que se trata, quando o tema é o combate à criminalidade brasileira. Filmado com uma estética realista e crua, Tropa de Elite tem também uma memória cinéfila, pois está recheado de referências filmicas, com um especial destaque para Full Metal Jacket de Kubrick. De louvar ainda o trabalho intenso de Wagner Moura, que compõe um capitão do BOPE torturado e complexo, numa interpretação verdadeiramente arrepiante. Depois do sucesso estrondoso de A Cidade De Deus, Tropa de Elite é mais uma prova da excelência e pertinência do cinema brasileiro e não me admirava que também fosse nomeado para os Oscars. Um dos grandes filmes do ano que passou e um exemplo que o cinema português poderia seguir.
Desilusão, é a palavra que me vem constantemente à cabeça sempre que penso neste W. Infelizmente, Oliver Stone apesar de continuar com um bom ritmo narrativo, perde-se na vida incompreendida que é a da George W. Bush. No seu excesso de zelo para fazer um retrato justo do homem, o cineasta omite e ignora acontecimentos fulcrais para compreender um dos mais mal amados presidentes da história dos EUA. Nunca percebemos quem é este básico homem que é retratado. Talvez fosse a intenção do realizador apresentar-nos o retrato de um coitado que apesar de um imenso complexo de inferioridade e de uma grande dose de ingenuidade, consegue virar a sua vida do avesso e conquistar o seu lugar na cadeira do homem mais poderoso do mundo. O problema, é que essa transição não é clara e é algo forçada dentro do contexto do filme. No seu excesso de subtileza (algo que fica mal a Stone) e recurso a constantes elipses, não é nos é perceptível como a personagem de W. conseguiu descobrir a força interior para assumir-se como o lider de uma nação. Destaque para a interpretação de Josh Brollin que apesar das limitações de um guião anémico, consegue transmitir carisma e presença para compôr um personagem limitado no papel. A haver alguma inspiração, ela surge tardiamente numa magnífica cena final, onde um confuso W. não consegue apanhar aquela bola no ar. Um pouco como o realizador, que com este filme dá o seu segundo tiro ao lado depois do anémico WTC.
Que saudades de Oliver Stone.
Mas, apesar de todas as suas qualidades, The Aviator, não é um filme isento de ligeiras falhas. O seu ritmo e tom, são algo desiquilibrados, devido a um início excecivamente arrastado, onde Scorsese se perde nas proezas aeronáuticas, amorosas e cinematográficas, do excentrico milionário. Mas nada que não se perdoe facilmente. Assim que assistimos aos primeiros sintomas de loucura do personagem (aquela cena na casa de banho) e nos apercebemos do verdadeiro tema do filme, que esteve sempre ali, debaixo daquela superfície aparentemente perfeita, somos levados numa viagem aos infernos, como só Scorsese sabe fazer. Para acabar, não posso deixar de referir aquele final, tão simbólico, irónico e amargo em que um descontrolado Howard Hughes, olha para o seu reflexo num espelho (tal como em Raging Bull) e aceita o seu “way of the future”, num dos finais mais doridos dos ultimos anos. Um grande filme, de um dos cineastas mais apaixonantes, da história da 7ª arte.