segunda-feira, agosto 20, 2007

Lord of War (2006)

de Andrew Niccoll


Antes demais, este Lord Of War, é um dos filmes mais arrojados e provocadores do ano de 2006. Seja a nível narrativo, visual ou temático. Numa altura em que os filmes, sentimentais, cerebrais ou simplesmente banais, inundam as salas dos cinemas desses multiplexes e videoclubes de todo mundo, sabe bem ser surpreendido por mais uma belíssima realização de Andrew Nicoll (autor entre outros do guião de The Truman Show e da realização do muito substimado Simone), que foge desses adjectivos como do Diabo da Cruz.

O tom de comédia que percorre este filme muito negro é perfeitamente adequado, pois foge de todos os clichés de fitas do género (especialmente na composição ambígua e perturbadora de Nicholas Cage), como também consegue fazer passar a sua forte mensagem de forma mais eficaz, sem nunca caír num registo demagógico.


Sem dúvida alguma, o humor é o elemento crucial nesta história muito séria e inspirada em factos verídicos, percorrendo um período de 20 anos da história recente. Começando nos EUA, o país vendedor de armas por excelência e líder de vendas a nível mundial, passando pela Ex-União Soviética e acabando nesse continente tão esquecido e flagelado chamado África. O herói(?) é Iuri Orlov, e assistimos à sua ascenção ao topo do mundo dos traficantes de armas, que forncem o armamento indispensável para os genocídios generalizados que infelizmente ainda são muito actuais no século XXI.

A forte e inspirada escrita de Andrew Nicholl é bem sustentada por uma forte carga visual, que demonstra uma apuradíssima sintonia entre imagem e texto. Destaco um momento particularmente bem conseguido a nível cinemático: o momento em que um fundamentalista islâmico dispara tiros de uma uzi. Nesse momento nós ouvimos o som de uma caixa registadora em vez do barulho das balas. Nada mais que um ponto de vista extremamente subjectivo do personagem principal. Um dos vários momentos brilhantes.


Lord Of War, é implacável no retrato que faz do personagem de Nicholas Cage (o senhor da guerra do título). O seu personagem é o pólo magnetizador da história, ele é simpático, charmoso, mas também completamente desprovido de escrúpulos, muitíssimo ambicioso e no fim, imoral e repugnante. O seu personagem acredita que o produto que disponibiliza aos seus “clientes” (armas e munições de todo o tipo) é menos prejudicial que o alcóol ou o tabaco, crença que será testada a meio do filme e que um final extremamente negro e amargo revelará como falsa e oca.

Os pontos mais fracos, serão os restantes personagens que pecam por serem demasido esquematizados, mas nada que perturbe a excelente prestação de Cage, assim como da magnífica realização de Andrew Nicoll, que tem neste Lord Of War o seu melhor filme até à data.

4 comentários:

Susana Fonseca disse...

Muito bom e muito forte!

Luís A. disse...

nem mais lua. obrigado pela visita

Anónimo disse...

Não esperava muito deste filme mas quando o vi foi uma óptima descoberta. Provocatório mas não moralista, daqueles que fazem pensar sem cairem na excessiva dramatização. E Cage sai-se muito bem como este anti-herói..

Anónimo disse...

Acho muito engraçado quando as pessoas falam "ah não foi moralista" - pois todo filme, história, novela e o escambau devia ser moralista, claro, é a falta de moral que faz do mundo a desgraça que é. O filme é bom justamente por isto: mostra a decadência moral de quem tem preço em dinheiro e não em valores eternos.

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