sexta-feira, outubro 06, 2006

Syriana (2005)

de Stephen Gaghan


A política definitivamente está de regresso a Hollywood. Desde os anos 70 (Alan Pakula, Sidney Lumet ou Costa-Gavras) e alguns fogachos nos anos 80 (Warren Beatty e Oliver Stone), que filmes que questionem o estado das coisas e agitem as consciências, pareciam estar definitivamente arredados. O principal impulsionador desse regresso é um senhor chamado George Clooney (produtor neste filme e realizador em Good Night and Good Luck).

Syriana é um filme sobre as consequências da desastrosa política externa americana, do seu passado e do seu presente, provocando no espectador uma necessidade de reflexão sobre o futuro. O personagem desencantado (e abandonado) de Clooney serve de metáfora a todo um comportamento autoritário e prepotente que transformou os Estados Unidos de carrascos em vítimas (o 11 de Setembro). Isso aliás é bem explícito no momento final do filme em que os jovens iranianos praticam o acto máximo de desespero. O enredo gira à volta do negócio sujo e de interesses geopolíticos do petróleo, mas é mais que isso. As consequências humanas dessa ausência de escrúpulos, manifestam-se através da tragédia pessoal no personagem de Matt Damon, na corrupção espiritual do advogado brilhantemente interpretado por Jeffrey Wright, ou no "despertar" do agente da CIA que George Clooney encarna de forma sublime.

Formalmente, o estílo documental da obra reforça a sensação de real, que trespassa a narrativa aparentemente desordenada, graças também a uma montagem à primeira vista aleatória, mas que funciona em crescendo até ao explosivo final. Infelizmente Syriana sofre de excesso de personagens que impede uma identificação maior por parte do espectador. Caso as cinco histórias que compôem o mosaico narrativo deste filme, fossem apenas duas ou três, o filme teria tido um impacto bastante mais avassalador. Mas Paul Thomas Anderson só há um.

De qualquer forma Syriana é um filme que faz pensar (e por vezes sentir) e em que o mérito dos actores e do realizador Stephen Gaghan é digno de bastante valor.

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