de Marco Ferreri
Uma das últimas obras do polémico Marco Ferreri, La Carne é, à semelhança de filmes como Chiao Maschio e La Grande Bouffe, a crónica da auto-destruição de um homem, causada pela sua relação com uma sensual mulher. E em La Carne, Ferreri vai longe nos seus temas recorrentes de solidão, não comunicação entre sexo(s) e angústia existencial masculina. O seu Paolo leva ao limite a obsessão pela possessão do sexo feminino e num final que tem tanto de surpreendente como de perturbador, Ferreri torna explícito o tema desta obra através de outro dos seus tópicos favoritos, a relação entre o sexo e a comida. Se a super-mulher pela qual o pobre Paolo se apaixona, é voluptuosa, carnal e sexual, ela é também inacessível e inatingível. Durante todo o filme há uma luta pela possessão desta deusa, e uma sequência num talho, avisa-nos que esta luta será até às últimas sequências. Tal como The Last Tango in Paris, também La Carne fala da angústia de meia-idade masculina, através de cenas tórridas, escandalosas e chocantes. A diferença entre o clássico de Bertolucci e esta obra, é que aqui temos o humor sarcástico e caustico de Ferreri, que limitado a uma casa e meia dúzia de actores, cria um microcosmos e uma metáfora, para todas as relações possessivas. La Carne funciona como um interessante e perspicaz tributo à superioridade feminina e uma feroz crítica à bestialidade masculina. Um filme insólito na obra de um realizador injustamente esquecido.

Sem comentários:
Enviar um comentário