segunda-feira, setembro 10, 2007

Bianca (1984)

de Nanni Moretti


“ Como é triste é morrer sem filhos”

Michele Apicella, o altar ego de vários filmes de Moretti nos anos 70 e 80, é obcessivo, paranóico, tem várias fixações, que vão das tortas Sacher, às mais variadas formas de calçado, e nós mesmo assim simpatizamos com ele. Por detrás de todas essas manias e comportamentos desviantes, está uma forte convicção moral e uma ingenuidade pura, de que Michele não abdica e que procura mesmo incutir nos seus amigos de infância, vizinhos ou na sua recem namorada, a Bianca do título.

Bianca distancia-se dos trabalhos mais recentes de Moretti. Aqui há mais raiva, desilusão e um final muito negro, onde o protagonista nos troca as voltas de forma surpreendente. Este Moretti, é um Moretti, pré-filhos e pré-casamento, que vê nos outros personagens aquilo que ele gostaria de ter e ser, mas que no fundo sabe que nunca irá conseguir.

As amizades, que Michelle cultivou durante toda a sua vida, encontram-se agora desprovidas de princípios, de valores ou mesmo de moral. Esse naufrágio moral de toda uma geração, a que pertencem Michelle e seus amigos e colegas, é aquilo que desperta a calma raiva que Moretti aplica no seu protagonista.

No final não há lugar para a esperança de uma vida normal, uma vida a dois e quem sabe filhos. A corrupção de valores, de toda uma geração que se rege pela banalidade, pela mentira e pelo superficial, acabam por condenar de vez Michelle, à solidão e à consequente ausência de afectos.

Uma pérola desencantada e belíssima. A descobrir urgentemente por todos os apreciadores deste grande senhor do cinema mundial.

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