segunda-feira, março 31, 2008

Saving Private Ryan (1998)

de Steven Spielberg


Existem duas vertentes distintas no cinema de Steven Spielberg. Se numa o cineasta aposta claramente em filmes escapistas e de grande espectáculo (Jaws, Indiana Jones, Jurassic Park), na outra o seu cinema vira-se para terrenos mais “adultos”, com histórias geralmente inspiradas em factos verídicos e com uma forte componente humanista (Schindler’s List, Amistad, Munich). Saving Private Ryan, insere-se claramente na segunda vertente. Duro e com um realismo que retrata de forma o mais fiel possível, toda a violência de um campo de batalha. Nunca até Saving Private Ryan, o cinema tinha ido tão longe, no mostrar sem complacências, toda a barbárie que é uma guerra.

Os seus primeiros 30 minutos (a batalha da Normandia) foram apelidados na altura da sua estreia, como os 30 minutos mais violentos da história do cinema. Exagero? Não. Realmente o realismo da violência do desembarque das tropas aliadas, possuiu uma carga tão visceral (em certas cenas literalmente), que é difícil, ficar indiferente ao que passa à frente dos nossos olhos. Um após outro, vários são os momentos, em que nessa sequência de abertura, somos chocados com a loucura e a brutalidade do que é a guerra realmente. A violência surge de forma animalesca, completamente aleatória e igualmente implacável para ambos os lados do conflito. Spielberg mostra-nos essa questão fundamental, de forma clara. Especialmente na forma como filma toda a acção como se de um documentário se tratasse. O efeito é o arrastamento do espectador para o centro da batalha. Seja através de longos planos sem montagem, captando toda a acção à sua volta com um hiper-realismo dantesco, ou através de outra ferramenta essencial para a imersão do espectador, o impressionante trabalho sonoro. Nunca o som das balas, dos tiros de canhão, da carne a ser dilacerada, foi tão autêntico e presente. Spielberg sabiamente, opta por não utilizar música durante as cenas de batalha. Nelas a banda sonora é o som da morte que envolve os seus personagens.

Mas essa abordagem documental não se reflecte apenas nas fortes imagens e sons de Saving Private Ryan. Também na escrita de Robert Donat, as acções e motivos dos personagens são por vezes moralmente questionáveis. Os nossos “heróis” comandados por um misterioso Capt. Miller (Tom Hanks irrepreensível), são rapazes assustados com os quais simpatizamos, mas que nos momentos de batalha, são capazes de matar soldados já rendidos e desarmados. É essa ambiguidade moral que está magnificamente sintetizada na cena da captura do soldado nazi, onde apenas uma voz (Jeremy Davies num belíssimo papel) se insurge contra a loucura do que estão prestes a fazer. Cruelmente, esse soldado irá ressurgir mais tarde, para ter papel crucial no destino de vários personagens. Spielberg observa todas as acções com um distanciamento que não é comum na sua carreira. E é esse distanciamento que torna a sua abordagem justíssima e equilibrada. Pena é, que o filme sofra de alguma dispersão na sua narrativa episódica. E além disso, algumas cenas estão a mais, e perturbam o tom do filme (toda a sequência que envolve as altas patentes militares e a mãe de Ryan era perfeitamente dispensável).

Steven Spielberg tem aqui um dos maiores sucessos artísticos e comerciais da sua carreira. Saving Private Ryan, confirma em definitivo a transição para cineasta “sério”, tendo inclusivé ganha outro oscar. Pena algumas lacunas, pois senão teríamos aqui o melhor filme de sempre sobre a 2ª guerra mundial. Sendo assim esse continua a sêr The Thin Red Line.

domingo, março 30, 2008

sexta-feira, março 28, 2008

terça-feira, março 25, 2008

Filmes da Minha Vida - VIII


Adulto, desencantado, provocador, subversivo, arriscado, polémico. Munich é isso e muito muito mais. E é por isso mesmo que adoro este filme. Uma obra maior, incompreendida e inesperada, de um dos maiores nomes de Hollywood. Com um casting perfeito (enorme Eric Banna), uma equipe no auge (destaque para Janus Kaminski e John Williams)e um realizador apostado em usar o seu enorme poder, para chegar de forma justa e sem concessões, ao âmago de algumas das mais pertinentes questões éticas, morais e humanas alguma vez abordadas em filme. O facto de vir de Hollywood, só valoriza este obra única na carreira de Spielberg. Um filme de uma profundidade tocante que assombra o espectador muito após a saída do cinema. E aquele plano final...

quinta-feira, março 20, 2008

Crime Story Opening

Só porque me apetece! Michael Mann is the Man!

quarta-feira, março 19, 2008

A minha cena romântica favorita

Esta cena sempre me causou um misto de arrepio e emoção. O poder que emana, deve-se à intensidade emocional de Fiennes, à música de Yared, a fotografia de Seale e a deslumbrante direcção do malogrado Minguella. Todos estes factores são merecedores dos oscars, que esta película recebeu.



Em memória de Anthony Minguella.

terça-feira, março 18, 2008

Anthony Minguella ...

R.I.P.
(1954-2008)

É com tristeza que publico mais um post deste género. Anthony Minguella, o realizador de 54 anos, faleceu devido a complicações durante uma operação. Este 2008 está a sêr cruel para com o mundo do cinema. Depois de Heath Ledger e Roy Scheider, agora foi o autôr de um dos filmes da minha vida, o inesquécivel, The English Patient.

segunda-feira, março 17, 2008

The Lovebirds (2007)

de Bruno de Almeida

“There is a sad beauty in defeat”. Uma das frases mais belas que já ouvi nos últimos tempos num filme. Paradoxalmente, uma frase pronunciada em inglês, por um realizador português (Fernando Lopes), num filme em que se interpreta a si próprio, guiado pela mão do cineasta Bruno de Almeida. Essa cena encerra todo o espírito melancólico que atravessa o filme. Funcionando no contexto temático de The Lovebirds, essa cena é também ela, uma declaração de amor ao cinema e a todos os utópicos, que apesar das derrotas, continuam a sua luta (por vezes sobre-humana) que é fazer um filme.

Curioso, mas ao mesmo tempo óbvio, que tenha sido um realizador radicado há quase 20 anos em Nova Iorque, a conseguir o “milagre” de contornar as contingências de mercado e de lobby, que são necessárias para fazer cinema em Portugal. Para tal “milagre”, Bruno de Almeida teve o apoio imprescendivel de um magnífico leque de actores (lusos e norte-americanos) e o suporte digital como grande “arma” de cinema. É precisamente com a liberdade desse digital, que Bruno de Almeida, bate aos pontos muita produção faustosa e inconsequente, que infelizmente se faz por cá. E se já há pouco referia paradoxos, não resisto a salientar, que com a câmara solta e próxima dos personagens, The Lovebirds transmite uma liberdade e um intimismo, que me arrisco a classificar de poético. Duvido que com as contingências de uma grande produção, essa expontaniedade fosse possível de alcançar. Alguém falou em Cassavetes, como referência espiritual para este filme, e a referência parece-me fazer todo o sentido. A sua sombra paira em todo o filme, quer na técnica cinematográfica, quer na abordagem solta e de improviso na direcção de actores.

A narrativa em mosaico com multíplas personagens, muito ao jeito de Magnólia, ou Short Cuts, funciona em pleno. Especialmente em três segmentos. O primeiro é o tocante episódio de um cineasta que faz o seu último filme (Fernando Lopes numa evocação cinéfila ao seu Belarmino). O segundo é a cruel história de um taxista que comete um acto chocante, para no final atingir uma inesperada redenção. E no terceiro assistimos à terna e por vezes hilariante (genial a cena do chouriço) relação entre o americano (grande Michael Imperioli) e a empregada de mesa de Alfama (uma surpreendente Ana Padrão). As outras história paralelas não me parecem funcionar tão bem, apesar do segmento protagonizado por Joaquim De Almeida, ser verdadeiramente hilariante. E apesar de algumas insuficiências na montagem, o filme possuiu um espírito tão honesto e despretensioso, que só apetece revê-lo mais uma vez.

Um refrescante e surpreendente filme, que pode contribuir para uma mudança de mentalidades no cinema português.

quarta-feira, março 12, 2008

Top Robert De Niro

Nº1 RAGING BULLNº2 TAXI DRIVER
Nº3 HEAT

segunda-feira, março 10, 2008

domingo, março 09, 2008

Shadow of a Doubt (1943)

de Alfred Hitchcock

Quando o tio Charlie (um ambíguo Joseph Cotten) decide visitar a família, a sua sobrinha (Theresa Wright) também chamada Charlie, é a única a desconfiar que o seu tio esconde um segredo que poderá incluir vários assassinatos. Mas será mesmo o tio Charlie um assassino, ou a sua sobrinha estará apenas com uma grande dose de paranóia? Shadow of Doubt gira em torno do tema preferido de Hitchcock, a suspeita. Tal como eu Rear Window, ou em Rope, aqui temos uma protagonista que suspeita de algo terrível, com a mais valia dramática, de o suspeito ser o seu simpático e (aparentemente) inofensivo tio.

A abordagem de Hicthcock é no mínimo ambígua, pois o realizador parece simpatizar na mesma medida com a sua protagonista e com o seu antagonista. E Hitch vai mais longe ainda, criando uma forte identificação com o tio e a sua sobrinha, tal como Theresa Whright diz a certa altura, “ mais que o meu tio, ele é o meu gémeo”. Essa ligação entre personagens, é estabelecida formalmente através de composições que funcionam como espelhos entre os dois protagonistas. Mas não é de gémeos que aqui estamos a falar, pois claramente há aqui um subtexto, com uma sugestão de uma possível atracção incestuosa. Mas Hitch, devido ao código Hays, nunca leva demasiado longe essa sugestão. E ainda bem, pois o filme não é nenhum drama psico-sexual, é sim um belíssimo thriller, onde a sugestão é muitíssimo mais eficaz no espectador, do que qualquer visualização. Quase até ao final, o brilhante cineasta não abre o jogo, deixando todas as leituras possíveis. Somente quando chegamos ao climático final, é que a verdade é revelada e a monstruosa face do mal emerge de forma perturbante.

Outro ponto curioso, é o local onde decorre a história. Uma pacata cidade do interior. Hitch, ao situar o clima de suspeita nos habitantes desse ambiente, parece sugerir que o mal não conhece fronteiras, pois até em zonas perfeitas e idílicas, o mal pode surgir a qualquer momento e assumir a forma de um terrível pesadelo. E isto tudo 43 anos antes de Blue Velvet. Um filme a descobrir por todos os fãs do mestre do suspense.

Lição de cinema com o mestre - Parte 1

sexta-feira, março 07, 2008

Poesia Pictórica

Este post é apenas para exprimir a minha paixão desmedida, por este filme tão mal tratado.




E como brinde aqui vai uma das cenas mais belas do cinema de Cimino.

Anti-establishment

"Dizem-me: eram produções absurdas, impensáveis, más gestões, orçamentos ridículos, inexperiências. Serão. Mas o que eu vejo é a tensão entre o dinheiro e o pensamento livre, a luta com as formas, vejo o cinema... O Amor de Perdição, Trás-os-Montes, A Ilha dos Amores são poços de energia, não são montanhas de dinheiro. Um filme exige concentração, trabalho, intensidade. É terrível o dispêndio do sistema de produção corrente, a dispersão, os empregozinhos das equipes de cinema. Não sei que diga. Considerem-me um inimigo"
Pedro Costa

quarta-feira, março 05, 2008

terça-feira, março 04, 2008

No Country For Old Men (2007)

de Ethan e Joel Coen


Há uma cena em No Country for old Men, que me agarrou a atenção e me fez lembrar o porquê de os irmãos Coen, terem sido os meus heróis cinematográficos no início dos anos 90. Lewlind Moss, está sozinho no seu quarto de motel. Lá fora parece estar o assassino psicopata que o persegue, desde que Moss descobriu uma mala cheia de dinheiro. Nessa cena, estamos presos ao ponto de vista de Moss, e isso no universo coeniano, implica ficarmos presos num quarto com um personagem, apenas ouvindo os ruídos, e vislumbrando as ténues variações de luz, que emanam da frincha da porta. Em suma, uma sequência plena de suspense e com uma encenação que nos remete para essa obra esquecida e genial que é Barton Fink.

Claro que não vou revelar o desenlace dessa cena, mas ela surge sensivelmente a meio do filme, e fez-me esperar que grandes momentos viriam aí. Enganei-me em parte. Grandes momentos , apenas só ultimos nos 10 minutos de filme, com os Coen a mostrar todo o poder da elipse, de forma simplesmente genial. Até lá, sequência após sequência, os realizadores, acabam por se repetir em universos e situações já por si explorados com muito mais originalidade e mestria, como foi no caso do superior Fargo. Essa repetição de temas e situações parece-me a mim algo esquemática e prejudicou-me o visionamento do filme. O que nuns casos se pode chamar de marca do autôr, em No Country For Old Men, parece-me sinceramente, desinspiração, pois muitas das situações vividas pelos seus ricos personagens, não parecem fazer nem avançar a trama, nem revelar personagens, e como consequência tornam-se maçadores.

Mas não crendo sêr injusto com o filme, há que referir a obra, tem muitíssimos méritos. Sendo de destacar a fotografia de Roger Deakins, a montagem e como é óbvio num filme dos Coen, as grandes interpretações. Incontornável referir em primeiro lugar a composição intensa e perturbada de Javier Bardem, que consegue transmitir com pouquíssimas palavras, toda a loucura e o mal que emanam do seu Anton Chirguh. Realmente um dos personagens mais assustadores dos ultimos tempos. Tommy Lee Jones como sempre vai bem, e Josh Brolin, é uma revelação com a sua personagem a carregar surpreendentemente bem o peso da história.

No Coutry For Old Men, não é o filme do ano. É sim um belíssimo filme negro, e uma tentativa dos seus excelentes autores regressarem à boa forma. Filme do ano, esse foi outro. Um tal de There Will Be blood…

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