segunda-feira, março 17, 2008

The Lovebirds (2007)

de Bruno de Almeida

“There is a sad beauty in defeat”. Uma das frases mais belas que já ouvi nos últimos tempos num filme. Paradoxalmente, uma frase pronunciada em inglês, por um realizador português (Fernando Lopes), num filme em que se interpreta a si próprio, guiado pela mão do cineasta Bruno de Almeida. Essa cena encerra todo o espírito melancólico que atravessa o filme. Funcionando no contexto temático de The Lovebirds, essa cena é também ela, uma declaração de amor ao cinema e a todos os utópicos, que apesar das derrotas, continuam a sua luta (por vezes sobre-humana) que é fazer um filme.

Curioso, mas ao mesmo tempo óbvio, que tenha sido um realizador radicado há quase 20 anos em Nova Iorque, a conseguir o “milagre” de contornar as contingências de mercado e de lobby, que são necessárias para fazer cinema em Portugal. Para tal “milagre”, Bruno de Almeida teve o apoio imprescendivel de um magnífico leque de actores (lusos e norte-americanos) e o suporte digital como grande “arma” de cinema. É precisamente com a liberdade desse digital, que Bruno de Almeida, bate aos pontos muita produção faustosa e inconsequente, que infelizmente se faz por cá. E se já há pouco referia paradoxos, não resisto a salientar, que com a câmara solta e próxima dos personagens, The Lovebirds transmite uma liberdade e um intimismo, que me arrisco a classificar de poético. Duvido que com as contingências de uma grande produção, essa expontaniedade fosse possível de alcançar. Alguém falou em Cassavetes, como referência espiritual para este filme, e a referência parece-me fazer todo o sentido. A sua sombra paira em todo o filme, quer na técnica cinematográfica, quer na abordagem solta e de improviso na direcção de actores.

A narrativa em mosaico com multíplas personagens, muito ao jeito de Magnólia, ou Short Cuts, funciona em pleno. Especialmente em três segmentos. O primeiro é o tocante episódio de um cineasta que faz o seu último filme (Fernando Lopes numa evocação cinéfila ao seu Belarmino). O segundo é a cruel história de um taxista que comete um acto chocante, para no final atingir uma inesperada redenção. E no terceiro assistimos à terna e por vezes hilariante (genial a cena do chouriço) relação entre o americano (grande Michael Imperioli) e a empregada de mesa de Alfama (uma surpreendente Ana Padrão). As outras história paralelas não me parecem funcionar tão bem, apesar do segmento protagonizado por Joaquim De Almeida, ser verdadeiramente hilariante. E apesar de algumas insuficiências na montagem, o filme possuiu um espírito tão honesto e despretensioso, que só apetece revê-lo mais uma vez.

Um refrescante e surpreendente filme, que pode contribuir para uma mudança de mentalidades no cinema português.

4 comentários:

Psiquiatra Angustiado disse...

Ando realmente curioso para ver este filme, sobretudo porque Lisboa me parece cenário para qualquer circunstância. Só não percebo por que não se filma mais em Lisboa.

Luís A. disse...

Realmente, The lovebirds aproveita muito bem a especificidade visual da cidade de Lisboa. Creio que uma das razões para não se filmar mais, prende-se com os altos valores de produção e constrangimentos vários, que implica filmar no centro da cidade. Como neste caso foi tudo filmado num estilo guerrilha e em 15 dias(devido ao suporte digital), esses problemas não se levantaram.

um abraço e obrigado pela visita

Cataclismo Cerebral disse...

Quando ouvi falar de The Lovebirds lembrei-me logo do Lisbon Story (de Wim Wenders), que adoro. Quero ver este filme, não o posso perder.

Luís A. disse...

não demores muito tempo cataclimo. ouvi dizer que está para sair das salas esta semana

um abraço

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