À partida esta obra de época teria tudo para ser um filme rigoroso mas artificial, pois a sua temporalidade e ambiente nas mãos de um cineasta (injustamente) acusado de distante e cerebral, poderia dar azo a um filme frio. Mas que grande engano. Barry Lyndon será provavelmente será o filme mais humano e tocante da carreira de Stanley Kubrick. A história do Barry Lyndon do título é magistralmente incarnada por um inesperado Ryan O’Neal assim como muito bem secundada pelo restante elenco. A história deste irlandês que nascendo numa família da burguesia provinciana, se lança ao mundo tendo um percurso de vida alucinante, em que conhece a guerra, tornando-se um vigarista e acabando por ascender à nobreza graças a um casamento por conveniência. A ajudar (e de que maneira) no relato da sua história existe uma voz off irónica, desarmante e reveladora dos acontecimentos futuros na vida de Lyndon. E como é seu apanágio habitual, Kubrick é brilhante quer na técnica, quer no lado formal e pictórico. As suas composições criam imagens mágicas (as famosas cenas filmadas à luz das velas são um prodígio fotográfico), a gestão do ritmo narrativo e das tensões da mise-en-scene é magistral e a fantástica escolha e gestão musical de temas clássicos é brilhante (indo dos Chieftains, a Schubert e a Vivaldi). Todos esses factores acumulam e ajudam a fazer um filme poderoso. Mas se a produção é faustosa, o guarda-roupa exuberante ou cenários imponentes, nas mãos de um cineasta “cerebral ou frio”, isso poderia facilmente esmagar os personagens, e Kubrick não o permite. O seu Lyndon está condenado desde o início, pois como diz o narrador, ele tinha os defeitos das suas qualidades. E o que é impressionante na abordagem de Kubrick é a forma justa como ele filma o percurso descendente do seu herói(?), sem nunca pestanejar ou fugir dos momentos mais emocionais e sem caír nas armadilhas do sentimentalismo. Convenceu-me e de que maneira. Um dos filmes maiores de um monstro do cinema.
domingo, outubro 17, 2010
Barry Lyndon (1975)
À partida esta obra de época teria tudo para ser um filme rigoroso mas artificial, pois a sua temporalidade e ambiente nas mãos de um cineasta (injustamente) acusado de distante e cerebral, poderia dar azo a um filme frio. Mas que grande engano. Barry Lyndon será provavelmente será o filme mais humano e tocante da carreira de Stanley Kubrick. A história do Barry Lyndon do título é magistralmente incarnada por um inesperado Ryan O’Neal assim como muito bem secundada pelo restante elenco. A história deste irlandês que nascendo numa família da burguesia provinciana, se lança ao mundo tendo um percurso de vida alucinante, em que conhece a guerra, tornando-se um vigarista e acabando por ascender à nobreza graças a um casamento por conveniência. A ajudar (e de que maneira) no relato da sua história existe uma voz off irónica, desarmante e reveladora dos acontecimentos futuros na vida de Lyndon. E como é seu apanágio habitual, Kubrick é brilhante quer na técnica, quer no lado formal e pictórico. As suas composições criam imagens mágicas (as famosas cenas filmadas à luz das velas são um prodígio fotográfico), a gestão do ritmo narrativo e das tensões da mise-en-scene é magistral e a fantástica escolha e gestão musical de temas clássicos é brilhante (indo dos Chieftains, a Schubert e a Vivaldi). Todos esses factores acumulam e ajudam a fazer um filme poderoso. Mas se a produção é faustosa, o guarda-roupa exuberante ou cenários imponentes, nas mãos de um cineasta “cerebral ou frio”, isso poderia facilmente esmagar os personagens, e Kubrick não o permite. O seu Lyndon está condenado desde o início, pois como diz o narrador, ele tinha os defeitos das suas qualidades. E o que é impressionante na abordagem de Kubrick é a forma justa como ele filma o percurso descendente do seu herói(?), sem nunca pestanejar ou fugir dos momentos mais emocionais e sem caír nas armadilhas do sentimentalismo. Convenceu-me e de que maneira. Um dos filmes maiores de um monstro do cinema.
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2 comentários:
A realização de Kubrick neste filme é mais que perfeita!
No entanto a narrativa lenta poderá afastar alguns espectadores mais comerciais. É talvez a obra de Kubrick mais subestimada.
http://febre7arte.blogspot.com/
Cumprimentos
é verdade Dezito. Eu proprio num primeiro visionamento há alguns anos atrás, não fiquei convencido. Neste revisionamento consegui ver finalmente a obra-prima que Barry Lyndon é. O filme não mudou, o meu olhar, sim:)
Abraço
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