Depois de dois serões dedicados ao senhor Spike Lee. Aqui vão os pensamentos deste blogueiro sobre estes dois filmes muito díspares.
Spike Lee, sempre foi um provocador, desde o explosivo Do the Right Thing (1988), ao instigador Malcom X (1991) ou o incendiário Summer Of Sam (2001). E provocação é o que não falta em She Hate Me, história algo inverosímil de um executivo demitido, que agora ganha a vida com um trabalho no mínimo invulgar: engravidador de lésbicas.
O conceito que a inicio parecia prometedor na primeira metade do filme, acaba por descaír para um moralismo bacoco e completamente desadequado que me surpreendeu muito pela negativa. O Problema de She Hate Me é querer ser muita coisa ao mesmo tempo, filme de corporações, comédia sexual, drama familiar. É como se várias peças de um puzle que não encaixam, fossem juntas à força com um martelo. Apesar dos bons desempenhos, foi uma desilusão.
Mas o visionamento deste She Hate Me, trouxe algo de positivo, fiquei com vontade de rever um Spike Lee à séria, aquele dos bons velhos tempos, que agitas as consciências, e toca em feridas dolorosas mas que não podemos (ou não devíamos) ignorar. E o sorteado foi este Clockers. Projecto inicialmente destinado à dupla Scorsese/De Niro que entretanto preferiram filmar o sublime Casino (1995), fiquando Scorsese como produtor deste filme.
Desde o magnífico genérico com imagens reais de mortos em tiroteios relacionados com o tráfico de droga, ficamos com a sensação que esta viagem vai ser dura, E essa dureza (ou rudeza) de Spike Lee, é que o que melhor funciona como grande trunfo na sua carreira. O olhar de Lee, nunca desvia, pelo contrário ele mergulha, e as ideias preconcebidas que temos (neste caso do tráfico de droga e segregação social e racial) vão pela janela fora.
Todos os personagens aqui têm uma humanidade latente, apesar de uns serem maus e os outros mais maus ainda. Uma sequência particularmente cruel apesar de recheada de humor negro, é aquela em que os polícias (magníficos Harvey Keitell e John Turturro) revistam um cadáver e gozam com a situação falando directamente para o morto. A desumanidade nessa cena é desarmante. Mas Clockers, não é um filme sem esperança, apesar da tragédia sempre eminente, o final é luminoso e com uma luz de esperança.
Bravo Spike Lee! Apesar de alguns She Hate Me’s pelo percurso, todos os Clockers, 25th Hour ou Summer of Sam, revelam-nos que estamos na presença de um dos maiores cineastas do cinema norte-americano contemporâneo.
3 comentários:
Não vi Clockers, e confesso que não sou um grande fã de Spike Lee (também é verdade que conheço muito pouco). Não gostei particularmente de Summer of Sam mas, em oposição, amei o 25th Hour, que, a meu ver, é um dos melhores filmes deste novo milénio. Abraço Luís! ;)
gosto muito do spike, e por acaso o Clockers foi um filme que me marcou muito mesmo...formalmente bombastico...apesar de achar que Spike Lee nunca fará mais nada como A Ultima Hora
Também adoro Spike Lee, mas para ser honesto nunca vi o Clockers. A corrigir dentro em breve!
Um abraço!
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