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Estrondoso sucesso comercial e artístico em 1985, Witness é um marco na carreira do seu realizador e do seu actor principal. Peter Weir assina o seu primeiro filme americano com resultados quase sublimes. A sensibilidade do cineasta australiano, torna este thriller em muito mais que isso. Apesar de ser um policial vibrante, Witness é acima de tudo uma delicada e inspirada história de um amor impossível, causado pelo contraste de dois mundos muito diferentes. Se o universo de John Book é violento e urbano, o de Rachel Lapp é solidário e anacronicamente idílico. É desse conflito de culturas, que nascem os melhores momentos deste filme nomeado para 8 oscars. Uma dessas nomeações foi precisamente para Harrison Ford ( a sua única até hoje ). O seu John Book é dos personagens mais complexos que o actor interpretou até hoje. Com uma subtileza até então desconhecida, Ford consegue transmitir força, vulnerabilidade, brutalidade e carência. Essas emoções demonstram o alcance interpretativo de Ford, provando que é muito mais que um heroi de aventuras e FC. Destaque tambem para a luminosa Kelly McGillis, para o pequeno Lucas Hass e para um cruel Danny Glover.Apesar da plot assentar em alguns clichés do policial (os polícias corruptos), os magníficos actores, a abordagem quase lírica de Peter Weir (que foca emoções, olhares e ambientes) fazem de Witness um dos grandes filmes da colheita de 85 e o melhor filme do seu realizador, lado a lado com The Truman Show.
"Light of my life, fire of my loins. My sin, my soul. Lo... Li... Ta"
Baseado numa peça da sua autoria, John Patrick Shanley adapta com mão segura o seu texto original. O guião deixa-nos constantemente na dúvida quanto aos motivos, emoções e acções dos personagens, o que nos aguça a curiosidade e o interesse num crescendo dramático, até chegar-mos aquele final, que deixará muita gente a pensar no filme, muito depois de saír da sala de cinema. Pena é que as raízes teatrais desta obra, se encontrem demasiado vincadas, pois o facto de toda a narrativa se prender num único local, torna por vezes o filme algo monótono visualmente.
Mas seja como fôr, o brilhante duelo dos dois actores principais, assim como um guião que aborda temas dificeis e polémicos de forma original, tornam este filme numa agradável surpresa.
Mas apesar de todas as virtudes técnicas e interpretativas deste filme poderoso, a grande virtude passa realmente pela forma justa e quase meditativa, com que Fincher conta a história da vida do peculiar Benjamin Button. Esse lado quase contemplativo, acaba por justificar uma duração, que alguns consideram excessiva. Mas lá está, o tema deste filme é o tempo e a sua inevitabilidade, e como tal a narrativa completa da vida de um homem, do nascimento à sua morte, acaba por ser plenamente aceitável. E Fincher foge de divagações metafísicas (apesar de elas estarem nas entrelinhas), ancorando o filme na realidade das emoções dos seus personagens. E essa é a magia de Benjamin Button. Um conceito mirabolante, contado de forma realista, emocionante, inteligente e profunda, com um desenlace final inesquécivel . Tal como The Wrestler, um dos grandes injustiçados nos Oscars, devido à histeria da moda, de seu nome Slumdog Millionaire.
Martin Scorsese(The Last Temptation of Christ) - O Cristo humano
de Stanley Kubrick
Stanley Kubrick foi um cineasta que se caracterizou pela enorme facilidade em exprimir o seu génio nos mais diversos géneros cinematográficos. O seu toque de Midas manifestou-se em géneros tão distantes como a ficção cinetifica (2001, A Clockwork Orange), no filme de crime(The Killing), no horror mais profundo (The Shinning) ou no psicodrama (Lollita, Eyes Wide Shut). Mas parece-me, que dos vários géneros que abordou, havia sempre um que lhe era mais querido, ou se preferirem, pessoal: o cinema de guerra. Senão, como explicar as três incursões de Kubrick a diversos cenários bélicos como foram a guerra fria (Dr. Strangelove), o Vietname (Full Metal Jackett) e as trincheiras da 1ª guerra mundial, neste Paths Of Glory. Junte-se a estes filmes, as obras não concretizadas, mas minuciosamente preparadas, sobre as conquistas de Napoleão e o Holocausto nazi, e fica-se com a ideia, de um cineasta motivado para expor e denunciar, o lado mais monstruoso do ser humano.
Tal como nos exemplos referidos, Paths of Glory expõem de forma brutal, crua e visceral, toda a injustiça e loucura de qualquer guerra. Esta filme baseado num caso verídico, conta a história de um general francês, que condenou à morte três soldados do seu exército, acusado-os de cobardia, por não terem conquistado um objectivo militar, que era impossível de conquistar à partida. O olhar de Kubrick é implacável no retrato desumano e altivo destes generais, que observam à distância os resultados sangrentos das suas táticas cruéis e irrealistas. Nas mãos desses generais, as vidas de milhares de homens são apenas carne para canhão e um caminho para chegar aos ambicionados louvores e promoções. Paths of Glory, tal como Strangelove e Ful Metal Jacket, expõe ao ridículo, qualquer discurso militarista e confronta o espectador com a injustiça e insanidade dos conflitos bélicos. Saliente-se ainda a coragem de Kirk Douglas, que no seu duplo papel de protagonista/produtor entregou a um jovem Kubrick os comandos desta produção polémica e corajosa.
Tecnicamente, trata-se de um filme irrepreensível. Nomeadamente nas composições que o olhar prodigioso de Kubrick elabora, ou nos travellings que nos fazem mergulhar de forma eficaz no inferno das trincheiras, ou ainda no apurado trabalho sonoro, que dispensa a utilização de partitura musical, confiando no som diagético dos tambores militares, das explosões das bombas ou na voz de uma cantora que encerra o filme com uma performance muito especial. Essa comovente cena final, é a prova, que tal como Spielberg disse, por detrás deste enorme cineasta acusado (injustamente) de frio e cerebral, havia um ser humano com uma grande empatia pelo seu semelhante, e com uma enorme capacidade artística para retratar o lado negro do Homem. Um filme marcante.
3 - O desespero e raiva de Peckinpah
4 - A poesia pictórica de Cimino
5 - O desencanto e fatalismo de Eastwood