
de Stanley Kubrick
Stanley Kubrick foi um cineasta que se caracterizou pela enorme facilidade em exprimir o seu génio nos mais diversos géneros cinematográficos. O seu toque de Midas manifestou-se em géneros tão distantes como a ficção cinetifica (2001, A Clockwork Orange), no filme de crime(The Killing), no horror mais profundo (The Shinning) ou no psicodrama (Lollita, Eyes Wide Shut). Mas parece-me, que dos vários géneros que abordou, havia sempre um que lhe era mais querido, ou se preferirem, pessoal: o cinema de guerra. Senão, como explicar as três incursões de Kubrick a diversos cenários bélicos como foram a guerra fria (Dr. Strangelove), o Vietname (Full Metal Jackett) e as trincheiras da 1ª guerra mundial, neste Paths Of Glory. Junte-se a estes filmes, as obras não concretizadas, mas minuciosamente preparadas, sobre as conquistas de Napoleão e o Holocausto nazi, e fica-se com a ideia, de um cineasta motivado para expor e denunciar, o lado mais monstruoso do ser humano.
Tal como nos exemplos referidos, Paths of Glory expõem de forma brutal, crua e visceral, toda a injustiça e loucura de qualquer guerra. Esta filme baseado num caso verídico, conta a história de um general francês, que condenou à morte três soldados do seu exército, acusado-os de cobardia, por não terem conquistado um objectivo militar, que era impossível de conquistar à partida. O olhar de Kubrick é implacável no retrato desumano e altivo destes generais, que observam à distância os resultados sangrentos das suas táticas cruéis e irrealistas. Nas mãos desses generais, as vidas de milhares de homens são apenas carne para canhão e um caminho para chegar aos ambicionados louvores e promoções. Paths of Glory, tal como Strangelove e Ful Metal Jacket, expõe ao ridículo, qualquer discurso militarista e confronta o espectador com a injustiça e insanidade dos conflitos bélicos. Saliente-se ainda a coragem de Kirk Douglas, que no seu duplo papel de protagonista/produtor entregou a um jovem Kubrick os comandos desta produção polémica e corajosa.
Tecnicamente, trata-se de um filme irrepreensível. Nomeadamente nas composições que o olhar prodigioso de Kubrick elabora, ou nos travellings que nos fazem mergulhar de forma eficaz no inferno das trincheiras, ou ainda no apurado trabalho sonoro, que dispensa a utilização de partitura musical, confiando no som diagético dos tambores militares, das explosões das bombas ou na voz de uma cantora que encerra o filme com uma performance muito especial. Essa comovente cena final, é a prova, que tal como Spielberg disse, por detrás deste enorme cineasta acusado (injustamente) de frio e cerebral, havia um ser humano com uma grande empatia pelo seu semelhante, e com uma enorme capacidade artística para retratar o lado negro do Homem. Um filme marcante.