quinta-feira, agosto 28, 2008
Ray
quarta-feira, agosto 27, 2008
Bigger Than Life (1956)
Cada vez gosto mais de Nicholas Ray. Não há volta a dar. A cada filme que vejo, mais me convenço que o homem era mesmo um grandíssimo cineasta. Em fase de descoberta da sua obra, eis que revejo Bigger Than Life. Um filme que tinha visto na minha infancia, numa matiné de domingo na rtp. Na altura o filme impressionou-me pelo medo que me causou. Nunca tinha visto nada assim, pois não haviam nem monstros, nem aliens, nem nada de paranormal. O medo, provinha de dentro da familia, na figura do habitual protector, o pai (outro retrato semelhante é o de Jack Nicholson em The Shinning). Agora passado uns aninhos, já consigo perceber o que mexeu tanto comigo na altura em que vi esta obra-prima.
Sufocante e negro, nunca a revolta e a desintegração de um homem, foi tão sublime e perturbante como neste subversivo Bigger Than Life de Nicholas Ray. O realizador, famoso pelos seus "rebeldes sem causa", tem aqui mais um brilhante exercício de cinema total, em que exprime as suas ideias de rebeldia, camuflado pelo sub-género do melodrama. A inicio parece que estamos em terrenos de Douglas Sirk, com a famila feliz, com os seus bens materiais e estabilidade financeira, onde aparentemente tudo são rosas. Mas cedo nos apercebemos, que estamos em terrenos de Ray, que tem nesta obra um exercicio de explosão e crítica à conformidade e a falsa felicidade, de um certo "american way of life" da altura.
O veículo para essa explosão, é o torturado personagem de Mason, que se apresenta a inicio, completamente esmagado pela sociedade em que se insere. Dá a impressão que a revolta de Mason, não advem das drogas que toma, mas sim de uma frustrações e tensões mais ou menos óbvias. Seja a relação com a sua submissa mulher (Barbara Rush), a pressão de manter um american way of life que o obriga a manter dois empregos (com o desconhecimento da mulher) ou um filho obviamente estereotipado quase acéfalo. James Mason, num retrato insuperável de demência e não-conformidade, é inesquécivel no papel de um homem que devido à sua "habituação" a uma droga experimental (na altura), chamada cortisona, explode contra o puritanismo e o politicamente correcto da América dos anos 50.
Brilhante Ray, no uso inspirado do Scope´, na composição de planos com tanto de belo como de expressionista (a famosa e ameaçadora sombra "bigger than life" de Mason), num uso de côr deslumbrante e na encenação de cenas aparentemente mundanas, mas que transmitem uma tensão em surdina quase insuportável de tão sufocante. Nunca um copo de leite foi tão perturbante, nem mesmo em Notorious. Ou então que dizer das cenas finais em que no cumulo da sua loucura, Mason, emulando a história de Abraão pega num par de tesouras e numa bíblia, disposto a chacinar o seu filho. A sua mulher ao confrontá-lo dizendo-lhe que de acordo com a bíblia, Deus salvou o filho de Abrão, a resposta é aterradora: "god was wrong". Isto sim é terror. Um terror sublime, que funciona a vários níveis e onde estranhamente simpatizamos com a revolta do protagonista. Ou será antagonista ?
sábado, agosto 23, 2008
Documentário sobre Michael Mann (parte 3)
"Les Réalisateurs" - Michael Mann (3/3)
Enviado por SoWiFo
sexta-feira, agosto 22, 2008
Documentário sobre Michael Mann (parte 2)
"Les Réalisateurs" - Michael Mann (2/3)
Enviado por SoWiFo
quinta-feira, agosto 21, 2008
Documentário sobre Michael Mann (parte 1)
"Les Réalisateurs" - Michael Mann (1/3)
Colocado por SoWiFo
terça-feira, agosto 19, 2008
Felicitazioni Nanni !
segunda-feira, agosto 18, 2008
Carpenter - II
"When somebody who makes movies for a living -- either as an actor, writer, producer or director -- lives to be a certain age, you have to admire them. It is an act of courage to make a film -- a courage for which you are not prepared in the rest of life. It is very hard and very destructive. But we do it because we love it. Regardless of how bitter I was a few years ago because of my experiences at the studios, I'm still making films."
"Monsters in movies are us, always us, one way or the other. They're us with hats on. The zombies in George Romero's movies are us. They're hungry. Monsters are us, the dangerous parts of us. The part that wants to destroy. The part of us with the reptile brain. The part of us that's vicious and cruel. We express these in our stories as these monsters out there."
Bond Song nº19 - For Your Eyes Only
sábado, agosto 16, 2008
The Man Who Shot Liberty Valance (1962)
“When the legend becomes fact, print the legend”. Esta frase célebre e milhentas vezes citada, vem quase sempre à baila, cada vez que se fala do cinema de John Ford. E foi em The Man Who Shot Liberty Valance, que pela primeira vez a ouvimos. Mais que uma citação, esta frase é uma súmula da atitude do grande cineasta. Ford, sempre preferiu a visão lírica e romântica do velho Oeste. Neste filme, além dessas característas, surge também um amargo desencanto, pela passagem do tempo que tudo muda. De certa forma, pode-se comprovar que esta obra maior, foi uma das influencias, para o sublime Unforgiven. Também aqui a imprensa tem um papel fulcral, na criação de mitos e lendas que pouca correspondência terão com a realidade dos factos.
Então quem será o Homem Que Matou Liberty Valance? Terá sido o civilizado advogado Ransom Stodard (sublime James Stewart), que apesar da sua inabalável crença na Ordem e na Lei, é forçado a assumir uma posição de violência que o força a um duelo final? Ou o outro homem, um ícone do Oeste por excelência, Tom Doniphon (John Wayne num dos seus papeis mais complexos e doridos), homem de princípios igualmente fortes, que acredita na resolução de problemas através da lei das armas. A resposta é dada num flashback, dentro de um flashback (Ford era apesar do classicismo um cineasta ousado). Ao nos ser revelada a verdade, toda a ultima meia-hora ganha uma ressonância trágica e emocional, como poucas vezes se viu.
E apesar de James Stewart, Edmond O’ Brien ( hilariante como o jornalista alcoólico), Vera Milles, ou Lee Marvin (num papel diabólico e cruel), este filme pertence ao Duke. O seu Tom Doniphon, é o Oeste. E tal como ele perdeu a mulher amada, para Stweart, também o Oeste desaparece numa das sequencias mais doridas e explosivas do cinema de Ford. A sequencia em que Wayne incendeia a sua casa, símbolo de um amor impossível, numa clara manifestação de o final de uma era, é simplesmente vibrante e tocante. O homem Que matou Liberty Valence, ao fazê-lo, matou também o velho Oeste e torna-se anacrónico. Sem lugar num mundo civilizado. Após isso, apenas há lugar para a amargura, tristeza e morte. Não é à toa que o filme começa e acaba com um velório. O velório de Tom Doniphon / John Wayne. Ou será o velório do Western/John Ford?
Uma obra brilhante.
quinta-feira, agosto 14, 2008
Ford
terça-feira, agosto 12, 2008
The Bounty (1984)
Antes de mais esta 3ª versão cinematográfica, da revolta abordo do navio HMS Bounty, é provavelmente a mais realista de todas. Tanto a versão de 1935 como a 1962 são filmes do seu tempo, e optam por um simplismo de personagens, que nesta versão de 1984, é abordada de forma mais complexa e interessante. Tanto Charles Laughton, como Trevor Howard, criaram um Capt. Bligh, cruel, desumano e virtualmente psicótico. O Bligh de Anthony Hopkins, está nos antípodas dessa abordagem. O seu Bligh é leal, sofre, é corajoso, mas no fim é vítima das suas próprias falhas de carácter. É precisamente neste complexo retrato psicológico que reside muita da riqueza deste magnífico filme.
A história por demais conhecida e simples. Em 1787 a Bounty dirige-se às ilhas do Taiti numa longa e perigosa viagem. No regresso a tripulação liderada pelo imediato Roger Christian, amotina-se contra o progressivamente tirânico capitão William Bligh. Enquanto nas outras versões, Bligh e Christian, são inimigos quase de imediato, em The Bounty, descobrimos que há uma amizade que os une. Essa amizade irá progressivamente deteriorar-se com consequencias dramáticas. A causa é o paraíso selvagem e o amor que Christian descobre na Ilha. Bligh cada vez mais incapaz de liderar e controlar os seus homens, enlouquece aos poucos, revelando uma faceta sádica e brutal. Isto causa a revolta liderada por Christian. Bligh é então abondonado à deriva em mar alto. Por fim consegue regressar a Inglaterra, graças a uma grande persistência e pericia marítima. Christian e os seu homens acabam por se refugiar numas ilhas desconhecidas dos mapas.
A direcção de Roger Donaldson ( No Way Out e 13 Days) é eficaz e muito segura. Apesar dos cenários poderem fazer com que caísse na tentação do filme bilhete postal, Donaldson concentra-se nas suas personagens. Os seus dilemas e conflitos, são o cerne do filme. Mel Gibson aguenta muito bem a sua representação, apesar do enorme actor que é Hopkins, lhe roubar quase todas as cenas. O Christian de Gibson é contemplativo e sereno, mas com uma revolta interior latente, que acaba finalmente por explodir, no momento climático do motim. Quanto a Hopkins, que dizer desse Enorme actor, provalmente já na altura um dos melhores do mundo. O seu Bligh oscila entre a simpatia e a crueldade de forma muito humana e verosimil, num trabalho digno de Oscar. Nos secundários, temos um dos melhores casts de sempre, pois alem de Gibson e Hopkins, brilham e destacam-se Laurence Olivier, Edward Fox, Bernard Hill e muito especialmente Liam Neeson e Daniel Day-Lewis em registos que viriam a comprovar o seu enorme talento. Destaque ainda para a magnífica fotografia, a inspirada banda sonora de Vangelis e para os diálogos brilhantes de Robert Bolt (como curiosidade, Bolt era o guionista de eleição do mestre David Lean, que esteve para realizar este filme).
Um filme de aventuras esquecido a redescobrir, por todos aqueles que gostem de vêr enormes actores ao serviço de uma história bem contada.