sexta-feira, outubro 20, 2006
terça-feira, outubro 17, 2006
Nova Iorque Fora de Horas (1985)
Filme que marcou a recuperação comercial de Scorsese, após falhanços consecutivos nas bilheteiras. Scorsese afirmou que este foi o filme em que ele queria provar a si próprio que conseguia filmar uma história simples, em pouco tempo e que fizesse algum dinheiro. Creio que não só conseguiu, como superou os seus objectivos iniciais, uma vez que como em tudo na sua carreira, o toque de génio anda sempre por lá, portanto esta comédia negríssima, poderá ser considerada tudo menos simples, uma vez que o alucinado personagem de Grifinn Dunne poderá criar sentimentos ambivalentes no espectador.Por vezes algumas das suas acções roçam o desprezível (espreitar a lingerie de uma miúda morta não se faz!!!). Ambientado na zona do Soho, esta obra delirante está recheada de personagens bizarras, excêntricas, ou simplesmente insanas. Um clássico absoluto do cinema dos anos 80, recheado de citações cinéfilas, uma câmara delirante, uma montagem vertiginosa (grande Thelma Shoonmaker) e que valeu a reabilitação do seu realizador ao olhos de Hollywood, assim como o prémio de melhor realização no Festival de Cannes.
Destaque para a brevíssima aparição de um Scorsese “possuído” na cena do Clube Punk.
segunda-feira, outubro 09, 2006
sexta-feira, outubro 06, 2006
Hollywood Ending (2002)
Sátira mordaz aos meandros de Hollywood com aquele humor inteligente e directo no alvo, que só o grande Woody Allen nos sabe dar. A história narra as viscissitudes do regresso de um realizador que se encontrava ostracizado dos grandes filmes, o problema é o realizador sofrer de uma cegueira (psicosomática) que irá ocultar durante toda a rodagem. As interpretações como em todos os filmes de Woody Allen, são sólidas e espontâneas e o filme está recheado de momentos hilariantes (o reencontro de Woody com o seu filho Tony, que entretanto mudou de nome para Scumbag X ).Os pouco pontos fracos são uma certa insistência na comédia física que parece algo desajustada, e sinceramente pouco cómica.. É de salientar a forte componente autiobiográfica (um realizador incompreendido na América mas adorado na Europa é familiar a alguém?) e não esqueçamos a ironia suprema do final do filme o personagem de Allen continuar a sua carreira na Europa uma vez que está "queimado" nos EUA.
Syriana (2005)
A política definitivamente está de regresso a Hollywood. Desde os anos 70 (Alan Pakula, Sidney Lumet ou Costa-Gavras) e alguns fogachos nos anos 80 (Warren Beatty e Oliver Stone), que filmes que questionem o estado das coisas e agitem as consciências, pareciam estar definitivamente arredados. O principal impulsionador desse regresso é um senhor chamado George Clooney (produtor neste filme e realizador em Good Night and Good Luck).
Syriana é um filme sobre as consequências da desastrosa política externa americana, do seu passado e do seu presente, provocando no espectador uma necessidade de reflexão sobre o futuro. O personagem desencantado (e abandonado) de Clooney serve de metáfora a todo um comportamento autoritário e prepotente que transformou os Estados Unidos de carrascos em vítimas (o 11 de Setembro). Isso aliás é bem explícito no momento final do filme em que os jovens iranianos praticam o acto máximo de desespero. O enredo gira à volta do negócio sujo e de interesses geopolíticos do petróleo, mas é mais que isso. As consequências humanas dessa ausência de escrúpulos, manifestam-se através da tragédia pessoal no personagem de Matt Damon, na corrupção espiritual do advogado brilhantemente interpretado por Jeffrey Wright, ou no "despertar" do agente da CIA que George Clooney encarna de forma sublime.
Formalmente, o estílo documental da obra reforça a sensação de real, que trespassa a narrativa aparentemente desordenada, graças também a uma montagem à primeira vista aleatória, mas que funciona em crescendo até ao explosivo final. Infelizmente Syriana sofre de excesso de personagens que impede uma identificação maior por parte do espectador. Caso as cinco histórias que compôem o mosaico narrativo deste filme, fossem apenas duas ou três, o filme teria tido um impacto bastante mais avassalador. Mas Paul Thomas Anderson só há um.
De qualquer forma Syriana é um filme que faz pensar (e por vezes sentir) e em que o mérito dos actores e do realizador Stephen Gaghan é digno de bastante valor.
Poseidon (2006)
Do realizador do assombroso Das Boot (81) e do trepidante A Tempestade Perfeita (99), esperava-se muito mais neste seu regresso a um tema que lhe é tão querido, os naufrágios marítimos. Infelizmente tudo neste filme está de cabeça ao contrário, a começar no realizador, passando pelos actores ( que saudades do Kurt Russel nos tempos do Carpenter) e a acabar no pobríssimo argumento(?). A única nota positiva, vai para a capacidade de Wolfgang Petersen criar momentos de tensão quase insoportável. Mesmo assim é muito pouco para tantos meios e talentos envolvidos. Em suma, uma perda de tempo
Miami Vice (2006)
Longe vão os tempos dos fatos armani, do Ferrari Daytona, das cores pastel ou dos neons, tudo o que criou o mito e a fama da já clássica série Miami Vice. Desse ícone dos anos 80, apenas sobreviveram os nomes dos personagens principais. Esta Miami, tem mais semelhanças com a Los Angeles de Colateral ou Heat, do que prpriamente com a solarenga Miami dos anos 80. Michael Mann, o realizador, abstracionista, poético, duro, experimental, perfeccionista e inovador, pegou no conceito original da série, e levou-o para um patamar mais elevado. Um patamar a que se pode chamar de mais adulto. Se à sensação que trespassa o filme do início ao final, é o de perda e da impossibilidade de vida para além da profissão. E num filme de Michael Mann, a profissão de um personagem é a sua maior obsessão assim como a sua perdição. Era assim em Thief, em Manhunter, em Heat ou em Colateral, com personagens torturados por uma solidão fatídica da qual não conseguem (ou não querem) escapar. Foi assim com Neil McCauley ansioso por iniciar uma nova vida longe do crime (Heat) e assim foi com Vincent Collateral que paga o preço mais caro, por criar uma relação de amizade com o seu taxista morrendo sozinho num metro de LA (Collateral), cidade de todas as solidões nos filmes de Mann. A estes personagens, pode se juntar agora este Sonny Crocket, interpretado por Collin Farrel com uma intensidade dramática (sem um único exagero interpretativo) digna de um filme de Michael Mann. O personagem de Crocket é o irmão espiritual de Frank em Thief, Jeffrey Wigand em The Insider ou mesmo de essa complexa e torturada alma que é Will Graham em Manhunter.
Todos eles devido às suas convicções, acasos do destino ou simplesmente por falta de alternativa, têm mais cedo ou mais tarde de deixar as suas relações para trás entregando-se assim na solidão que possibilitará resolver (ou não) o conflito em que se encontram. Este facto é mais uma vez assinalado em Sonny Crocket que ama a sua profissão mas que anseia por uma criminosa Isabella, tendo que no final tomar a decisão típica de um homem de Mann. O filme começa como acaba, abruptamente, como um pedaço da vida de alguém, com uma backstory e com uma continuação que nos são vedadas. O realismo (assim como a realidade) sempre foi uma das obsessões de Mann. Senão como justificar a utilização de ferramentas utilizadas em assaltos reais como adereços em Thief, ou da imersão de William Petersen no personagem de William Graham ao ponto da perda de identidade do próprio actor (facto assumido pelo próprio), ou então os 107 locais de filmagem de Heat, todos reais, com uma recusa por parte de Mann em utilizar qualquer tipo de cenário em estúdio. Em Miami Vice esse sabor do real está bem patente nos procedimentos policiais, assim como na gestão da narrativa, que foge dos clichés como se fugisse da peste. Trata-se de momentos na vida destes personagens, que no fim acabam por ter uma conclusão algo inconclusiva (e não é assim na vida real?). Voltando ao estilo do filme, parece-me claro que a partir de The Insider, Michael Mann, começou a sua fase mais experimentalista enquanto cineasta. Se por um lado a câmara ao ombro transmite uma sensação de realismo dinâmico, a mesma por vezes cria um lirismo poético que transcende a própria imagem ( neste particular o uso do foque/desfoque é bastante eficaz ). Longe estão os neons e luzes de Thief, Manhunter, Heat e claro está da já referida série Miami Vice.
Ainda só uma nota especial para a importância da música em Miami Vice (assim como em toda a carreira de Mann). Ao ouvirmos os acordes iniciais de Numb, dos Limp Bizkit, no início do filme, podemos assustar-nos um pouco, mas nas mãos de Michael Mann esses acordes conjugados com a imagem e a situação narrativa, criam um ambiente a que um crítico francês (referindo-se à utilização de música em Miami Vice a série) chamou de “pop transcendental”. E agora digam-me uma coisa, não é isso mesmo que sucede no momento em que Crocket e Isabella navegam mar adentro ao som de Moby? Um momento mágico num filme desiludido e cruelmente belo.
55 dias em Pequim (1962)
O último filme do lendário Nicholas Ray, e aquele que mais problemas lhe criou (teve um enfarte e renegou o filme devido à interferência do produtor Samuel Bronston). Mescla de western e filme histórico, é um filme apesar de todos os acidentes de percurso, com momentos muito conseguidos. A mão de Ray faz-se notar de forma bastante segura na direcção de actores e no desenvolvimento de personagens e suas relações. Com um ritmo em crescendo e com momentos ora trágicos, ora explosivos é sem dúvida um dos bons exemplos das super-produções de Hollyood, assim como um belo testamento de um dos seus enfant terribles.